quarta-feira, 1 de novembro de 2023

É inegável

Até hoje eu mergulho nas mesmas águas turbulentas do que ficou de nós em mim

Até hoje eu me afogo nas mesmas ondas de tristeza e confusão que ficaram pra trás

Até hoje eu me lembro da promessa de amizade eterna que foi esquecida tão rápido quando eu cometi os primeiros erros, e você me fez prometer sem prometer nada de volta

Até hoje eu me odeio e me maltrato pelos mesmos erros, e no fim era só medo

No fim você só queria seguir em frente, e eu nunca vou saber como seria

No fim eu só queria uma explicação, mas você não sabia o que dizer

No fim eu só queria ter falado pra você que eu sei que errei, mas isso não mudaria nada

Hoje eu continuo voltando pra aquela cena, eu estava feliz em te ver, mas você já não estava

Hoje eu quero deixar tudo pra trás mas eu não consigo, já faz mais de um ano

As vezes eu estou bem, e lembro de tudo

A verdade é que não tem um dia sequer que eu não lembre de você e isso é ridículo

E nada disso importa porque nem toda essa tristeza, sobrecarga, confusão, rancor, afastou de mim o que eu sinto lá no fundo, continua sendo inegável

domingo, 5 de junho de 2022

Hoje eu acordei de madrugada

De reflexo escrevi um texto

Parece que o cadeado invisível 

Aquele silencioso que arrogou-se à minha escrita

Sumiu


Misterioso padrão

Há anos, não o vejo

Posto a escanteio

O que de novo há (ou antigo) que retorna a mente sonolenta

A culpa, de certo


Cansado de mentir-me só

A ela, agora a elas

Pareço agora merecer menos

Do que naquele espaço de tempo juvenil

De posse de mais vida continuo a possuir nada

E quem nada possui, nada tem a oferecer


Um estranho sonho, e nele só, abandono as duas

As custas de um ano-novo-carnaval me vejo só

A mais pura nem chega a me tocar, a perdi no início, a selvagem sequer chega a me reconhecer

E quem sou eu entre as duas, só um amontoado de incertezas, de certo nunca merecedor de céu ou inferno, ou qualquer estrutura simbólica que os valha


Foi assim que se sentiu Dante?

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Gafe

Quero mergulhar no frio
Até que de dor
Ele se torne em calor

Quero cavar no vazio
Bebendo o suor
Até o fundo do esplendor

Quero me queimar de luva
No fogo estéril da vida
Futucando cada ferida de amor

Quero cair na minha própria armadilha
Feita de arame farpado
Embebida no veneno do rancor

Quero suforcar no pó de cada livro
Saber da missa o terço
O aperreio do pensamento do amador

Quero sombra na minha vista
A pele arrancada
Até trazer manjar à boca e não sentir sabor

O que eu não quero
É o seu silêncio
Porque não sei sofrer pela metade

Não sei esconder nenhuma gafe

sábado, 4 de agosto de 2018

Castelo da Intimidade

Ontem eu me perdi em uns lances esquisitos
Fui a um show
Foi lindo
Dois caras e tanta inspiração
Não sei se tenho tanto coração
Pra aguentar tudo isso

Foi lindo
Porque quando menos se espera
A vida te entrega algo assim
E de mão beijada um show vira uma conversa
E um papo com cerveja revela tanta coisa
E talvez, só talvez a companhia seja até melhor
Que a arte distante
Que o lindo véu que encobre a realidade

E talvez
Venham outras oportunidades
De crer-sendo
De entender que a vida é um cabaré
De ver que somos nós todos
Como arte
Que entrega um pouco
E pouco a pouco
Cada parte se refaz
E que talvez o palco seja menos
E que todos nós sejamos mais

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Desconhecido

Ei! Como foi que eu te encontrei?
Não sabia que estava tão perto
Tanto tempo que eu podia ter gasto com você
Tanta poesia que não escrevi

Como foi que deixei passar despercebido
Tão boa sua companhia
Tão forte sua presença
Passou despercebida, acho que é minha culpa

Tanta coisa boa que você me apresentou
E eu ignorei não sei por quê
Mas chega junto e me conta
Como é que eu nunca te vi?

Como você se escondeu por tanto tempo
na curva do meu espelho.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Cálido



Ao primeiro sopro da primavera
Surgindo calor sorrindo
Amor brotando em coração faminto
Longe frio da solidão
Sorrindo exibe o peito à vastidão
Desafio pobre é o mundo
A luz da esperaça sorri
Cresce o menino
E a força que previ
Transborda em flor de formas mil
E assim se mostra
O sorriso primaveril
E àquele que desabrocha
A vida corre lenta
E o ardil
Não foge à tormenta

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Cunha

Porque se baixa é a estatura que nos reveste
sob a fila de uma sociedade classicista
Alto é o ideal que nos une
sob a forma do amor que compete

Porque se curta é a liberdade ao nosso pés
sob o cunho de uma vida proletária
Vivo é o carinho que nos une
sob a cunha ditadora do revés

Porque se longa é a lista do que nos falta
sob a força de um poder capitalista
Forte é o prazer ao que nós temos
sob os braços dos amigos a nossa volta

Porque se muitos são os motivos pra desistir
sob a esmagadora vontade da vida
Mais ainda são os de continuar
sob a longa lista dos amores que hão de vir